A CONTABILIDADE ATRAVÉS DOS SÉCULOS

  • 26 de fevereiro de 2016

 

 

Letícia Schmitt Rocha[1]

 

RESUMO: Este artigo descreve uma pesquisa, desenvolvida no grupo GAUC, do curso de graduação de Ciências Contábeis da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI São Luiz Gonzaga. Aborda o assunto “A CONTABILIDADE ATRAVÉS DOS SÉCULOS”, que abrange toda a história da contabilidade, desde as primeiras civilizações até os dias de hoje. Tendo por objetivo, levar aos acadêmicos uma história mais ampla do desenvolvimento da contabilidade no decorrer do tempo. Enfatizando ainda, a importância que o comércio teve e da influência de fatos históricos que contribuíram para o avanço dessa ciência, tornando hoje uma área necessária dentro de toda e qualquer empresa.

 

PALAVRAS-CHAVE: Evolução contábil. Primeiras civilizações. Bíblia. Frei Luca Pacioli. Influência americana. Brasil.

 

1 INTRODUÇÃO

 

Quando se fala em contabilidade, pensa-se em uma ciência que teve início recentemente, pois vem ganhando espaço, cada vez mais, nos dias de hoje. Porém, a história da Contabilidade é tão antiga quanto à da própria evolução humana.

Para os historiadores, as pinturas rupestres já eram uma forma rudimentar que o homem desenvolveu para controlar seus bens. Ou seja, antes mesmo da existência do homo sapiens, já se registrava os fatos ocorridos.

A evolução no comércio, milhares de anos mais tarde, foi de grande importância para a contabilidade. Pois o homem passou a ver a necessidade existente em aprimorar essa área.

Esse processo de aprimoramento da contabilidade ocorreu de forma lenta durante muito tempo. Foi só no século XV que começou a se ter grandes avanços, devido a fatos históricos ocorridos neste período e o avanço na tecnologia.

Atualmente a contabilidade é vista como uma das áreas mais promissoras para se estabelecer uma carreira profissional, devido à quantidade de opções existentes dentro dela. Com um mercado amplo, oferece aos profissionais da área diversas opções para seguir, que vão desde a tradicional contabilidade de escritório até auditoria, controladoria, perícia, etc.

Este artigo descreve apenas a história da contabilidade, portanto não se detém a outros assuntos dentro do conteúdo apresentado na grade curricular do curso. Baseado em leituras feitas em sites, livros e dados retirados de grandes nomes da contabilidade, o artigo apresenta uma síntese do processo evolutivo contábil.

 

2 HISTÓRIA DA CONTABILIDADE

 

A história da evolução da contabilidade é muito antiga, e vem desde a história da evolução e desenvolvimento das primeiras civilizações pensantes. Quando começaram a surgir as primeiras necessidades de proteção à posse e registros do que ocorria com os seus bens, para se ter um controle do que possuíam.

Quando o homem deixou a caça, buscou a agricultura e o pastoreio como forma de produzir seus alimentos. Para isso, foi necessário se estabelecer uma organização sobre a utilização do solo, criando-se então, divisões e o conceito de propriedade.

A origem da Contabilidade de fato, surgiu da necessidade de registros do comércio. A atividade de troca e venda dos comerciantes requeria registros de cada transação que era efetuada, para isso eram feitos, de forma simples, anotações ou relatórios sobre o ocorrido com os bens.

Quanto mais o homem acumulava riquezas, mais ele queria render para aumentar suas propriedades, e da forma mais rápida e simples possível. Mas para memorizar tudo já não era mais tão fácil, requeria registros mais amplos. Para isso foram criados registros com a finalidade de saber as suas capacidades de consumo, produção, etc.

As compras, vendas e trocas eram todas realizadas à vista. Mais tarde foram empregados pequenos objetos ou pedaços de madeiras para marcar como dívida ou pagamento. O desenvolvimento do papiro e do cálamo, que tinham como função o papel e a caneta dos dias de hoje, veio para auxiliar de forma extraordinária o registro das transações.

A evolução da contabilidade costuma ser dividida em quatro períodos: Antigo, medieval, moderno e científico. Na Bíblia podemos encontrar interessantes relatos sobre controles contábeis. Mas foi a partir do período moderno que a contabilidade obteve seus maiores avanços.

 

2.1 BÍBLIA

 

Há vários relatos bíblicos que comprovam que deste os tempos bíblicos, a prática contábil já era algo comum. Um deles fora relatado por Jesus, em Lucas capítulo 16, versículos 5 a 7. Onde conta a história do administrador que roubou seu senhor, alterando os registros de valores a receber dos devedores.

 

5 E, chamando a si cada um dos devedores do seu senhor, disse ao primeiro: Quanto deves ao meu senhor?

6 E ele respondeu: Cem medida

s de azeite. E disse-lhe: Toma a tua obrigação, e assentando-te já, escreve cinqüenta.

7 Disse depois a outro: E tu, quanto deves? E ele respondeu: Cem alqueires de trigo. E disse-lhe: Toma a tua obrigação, e escreve oitenta.

(Lucas 16:5-7)

 

Há também o relato do tempo de José, no Egito. José havia decifrado o sonho do faraó de que haveria sete anos de fartura e riqueza seguidos de sete anos de seca, onde não haveria alimento para se colher.

Nestes sete anos de fartura houve uma enorme acumulação de bens que perderam a conta do que se tinha.

 

47 E nos sete anos de fartura a terra produziu abundantemente.

48 E ele ajuntou todo o mantimento dos sete anos, que houve na terra do Egito; e guardou o mantimento nas cidades, pondo nas mesmas o mantimento do campo que estava ao redor de cada cidade.

49 Assim ajuntou José muitíssimo trigo, como a areia do mar, até que cessou de contar; porquanto não havia numeração.

(Gênesis 47:49)

 

Em outra parábola de Jesus, conta-se a história de um construtor que faz contas dos gastos da sua construção para saber se o conseguiria finalizar a obra.

 

28 Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro a fazer as contas dos gastos, para ver se tem com que a acabar?

29 Para que não aconteça que, depois de haver posto os alicerces, e não a podendo acabar, todos os que a virem comecem a escarnecer dele,

30 Dizendo: Este homem começou a edificar e não pôde acabar.

(Lucas 14.28-30)

 

Estes são apenas alguns dos relatos existentes na Bíblia que comprovam, o que já fora demonstrado por historiadores, o quanto a prática contábil já era utilizada. Antes mesmo de Jesus já se contabilizava os bens; entradas de alimentos em estoque, como na história de José no Egito; e ainda, já na era de Cristo, calculava-se a quantidade de gastos que teria o serviço.

 

2.2 PERÍODO ANTIGO

 

O período antigo vai desde as primeiras civilizações até o surgimento da obra “Liber Abaci”, em 1202, já na Era Cristã. As primeiras civilizações utilizavam uma forma rudimentar de se contabilizar, mas como estes já eram seres pensantes, desenvolveram formas mais eficientes para fazerem os registros.

Os povos sumérios, babilônicos e assírios tiveram grande importância na evolução da contabilidade. Mais tarde, os egípcios aperfeiçoaram o modo de se fazer contabilidade, tornando-a mais fácil.  Segundo pesquisadores, tudo indica que foram os egípcios os primeiros a usar o valor monetário.

A Grécia, baseando-se no Egito, 2.000 anos antes de Cristo, já escrituravam Contas de Custos e Receitas, procedendo, anualmente, a uma confrontação entre elas, para apuração do saldo. Os gregos aperfeiçoaram o modelo egípcio, estendendo a escrituração contábil às várias atividades, como administração pública, privada e bancária.

 

2.3 PERÍODO MEDIEVAL

 

Tem início em 1202 da Era Cristã, quando houve o aparecimento da obra “Liber Abaci”, e vai até 1494. Estudavam-se, na época, técnicas matemáticas, pesos e medidas tornando o homem com mais conhecimentos comerciais e financeiros.

Foi um período importante na história do mundo, diversos acontecimentos levaram a chegada do capitalismo. Houve um aumento impressionante no comércio e invenções como moinho de vento e aperfeiçoamento da bússola deram novos rumos ao comércio.

Essas mudanças geraram a acumulação de capital, mais uma vez era necessário aprimorarem a forma contábil dos registros, tornando-os mais complexos. Foi nesse período também que o trabalho escravo foi substituído pelo assalariado.

Já nesta época, tinha-se noção de custos, e ele já era registrado de forma separada. Os gastos com matérias-primas, mão-de-obra e custos de fabricação eram feitos por fases separadamente, até que fossem transferidos ao exercício industrial.

 

2.4 PERÍODO MODERNO

 

Este período se estende de 1494 até 1840. O surgimento do “Tractatus de Computis et Scripturis” de Frei Luca Pacioli, marca o início desta fase da Contabilidade.

Frei Luca Pacioli, enfatizava que à teoria contábil do débito e do crédito corresponde à teoria dos números positivos e negativos. Apesar de ser considerado o pai da Contabilidade, ele não foi o criador das Partidas Dobradas. O método já era utilizado na Itália, desde o Século XIV.

Segundo Pacioli, no tratado destacava, inicialmente, o necessário ao bom comerciante. A seguir conceituava inventário e como fazê-lo. Discorria sobre livros mercantis: memorial, diário e razão, e sobre a autenticação deles; sobre registros de operações: aquisições, permutas, sociedades, etc.; sobre contas em geral: como abrir e como encerrar; contas de armazenamento; lucros e perdas; sobre correções de erros; sobre arquivamento de contas e documentos, etc.

Esse foi um período de importantes fatos que ocorreram, como por exemplo, a descoberta da América do Norte e Central e em seguida o Brasil, que passaram a representar enormes potenciais de riquezas para a Europa. Fatos como esse mexeram na economia e elevaram a importância da contabilidade, que passou a ser indispensável para este novo mundo.

Na Itália passou-se a fazer restrições a qualquer pessoa à prática contábil. Para exercer a funções era necessário estar devidamente qualificadas.

 

2.5 PERÍODO CIENTÍFICO

 

Inicia-se em 1840 e continua até os dias de hoje. Este período apresenta dois grandes nomes que contribuíram para a evolução contábil: Francesco Villa e Fábio Bésta. Neste período a ciência contábil chega às universidades.

Segundo Francesco Villa, contrariando o modo tradicionalista de pensar, disse que a escrituração e guarda livros poderiam ser feitas por qualquer pessoa inteligente. Para ele, a Contabilidade implicava conhecer a natureza, os detalhes, as normas, as leis e as práticas que regem a matéria administradas, ou seja, o patrimônio.

Fábio Bésta (1845 – 1922) demonstrou o elemento fundamental da conta, o valor, e chegou muito perto de definir patrimônio como objeto da Contabilidade. Porém isto foi definido por Vicenzo Mazi, seguidor de Fábio Bésta, em 1923.

Por volta de 1920, iniciou-se o período de influência norte-americana na Contabilidade. No início XX, com ao extraordinário ritmo de desenvolvimento que os Estados Unidos da América experimentou e ainda experimenta até os dias de hoje, constitui um campo fértil para o avanço das teorias e práticas contábeis. Atualmente o mundo possui inúmeras obras contábeis de origem norte-americanas que tem reflexos diretos nos países de economia.

Foi os Estados Unidos inclusive, juntamente com outros países que criaram as “International Accounting Standard” (IAS), ou seja, “As normas internacionais de contabilidade”. Atualmente, é denominada de International Financial Reporting Standards (IFRS).

As IFRS têm com o objetivo de harmonizar as demonstrações financeiras consolidadas das empresas. Hoje, numerosos países têm projetos oficiais de convergência das normas contábeis locais para as normas IFRS, inclusive o Brasil.

No período cientifico, a contabilidade vem ganhando papel fundamental dentro de qualquer organização, além de ser fator crítico para o sucesso de uma empresa. As informações contábeis devem ser vistas com extrema atenção nas tomadas de decisão.

Em entrevista à Revista do CRCRS, edição de outubro de 2015, Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do Conselho Consultivo da Gerdau, destacou alguns pontos sobre isso. Quando questionado pela revista sobre como a contabilidade colabora na sua trajetória profissional, Gerdau (2015, p.11) diz:

 

“A Contabilidade é fundamental como fonte de informações relevantes para a tomada de decisão dos líderes de uma organização. A adequada mensuração do desempenho econômico e financeiro do negócio contribui para a busca da eficiência da gestão das empresas. Ademais, as informações contábeis dão respaldo às decisões estratégicas e ao planejamento dos movimentos das companhias, permitindo que os gestores enfrentem adequadamente os desafios atuais e futuros.”

 

Ou seja, o contador hoje é visto não apenas como o guarda-livros do passado, hoje o profissional contábil tem papel fundamental no desempenho financeiro da empresa. Para se ter sucesso dentro de uma organização, é necessário que o gestor saiba trabalhar juntamente com o contador. Sobre isso, Gerdau (2015, p.11) enfatiza:

 

“Quando falamos dos processos decisórios e do papel do gestor em uma organização, temos que avaliar as ferramentas que apóiam e suportam o adequado desempenho de suas funções. Nesse sentido, uma detalhada informação contábil permite ao líder identificar se o esforço de gestão está gerando resultados e sendo efetivo.”

 

2.6 NO BRASIL

 

A contabilidade chegou ao Brasil, juntamente com a vinda da Família Real Portuguesa. Existiam na época as Tesourarias de Fazenda nas províncias, estas eram formadas por um inspetor, um contador e um procurador fiscal.

Foi por volta de 1770, que ocorreu a primeira regulamentação no Brasil. Uma carta expedida por dom José, rei de Portugal na época, estabelecia que todos os profissionais, denominados na época de “guarda-livros”, deveriam ter o seu registro da matrícula na junta comercial.

Um dos primeiros nomes, responsável por grandes contribuições à contabilidade brasileira, foi o gaúcho, chamado Sebastião Ferreira Soares. Aliás, Rio Grande do Sul, por ser um estado de forte comércio na época, teve grande influência na área contábil no Brasil.

Em 1753 foi criado a Provedoria Real, que buscava aperfeiçoar a fiscalização dos tributos que cabiam a família real. Pode-se afirmar que o crescimento comercial no Rio Grande do Sul fez com que aumentasse o uso das práticas contábeis.

O Collégio Emulação representa um dos primeiros indícios de ensino formal da Contabilidade, ainda no período real. O que demonstra, mais uma vez, a importância do estado gaúcho para a ciência contábil no país.

 

  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Com base em estudos realizados pode-se concluir que a contabilidade é uma ciência que sempre se fez necessária no cotidiano do homem. Ela surgiu da necessidade de controle sobre os bens que se possuía.

Por muito tempo o contador foi visto somente como um guarda-livros, responsável por controlar apenas a parte fiscal da empresa. Hoje, as funções não se limitam apenas a isso, o que tornou a profissão, neste mercado complexo e exigente, algo necessário para o bom funcionamento das empresas.

É uma área que possui um vasto campo de atuação, e que vem crescendo cada vez mais no mercado.  O avanço tecnológico agrega valor ao profissional de contabilidade, pois essas mudanças obrigam ter que se atualizar. Isso eleva o nível do contabilista e o seu trabalho realizado. Sem contar que a tecnologia hoje permite combater a corrupção e fraudes, pois a fiscalização está mais ágil.

Hoje pode-se praticamente efetuar a escrituração de todas as obrigações por meio de programas, isso trouxe maior eficiência, e minimizou o tempo para gerar relatórios mais detalhados e eficientes. Atualmente o progresso dessa ciência é extraordinário, prosseguindo a trajetória que vem a mais de 2.000 anos a.C.

 

REFERÊNCIAS

 

HENDRIKSEN., Eldon S. e BREDA., Michael F. Van. TEORIA DA CONTABILIDADE, tradução da 5° edição americana por SANVICENTE., Antonio Zoratto. Atlas S.A, 2012.

 

IUDÍCIBUS., Sérgio de. TEORIA DA CONTABILIDADE, 10° edição. Editora Atlas S.A, 2010.

 

BARBOSA, Marco Aurélio Gomes e OTT, Ernani. A ORIGEM DA CONTABILIDADE NO RIO GRANDE DO SUL: PRIMEIRAS EVIDÊNCIAS, FORTALECIMENTO E CONSOLIDAÇÃO. Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul, maio 2013.

 

REVISTA DO CONSELHO REGIONAL DE CONTABILIDADE DO RIO GRANDE DO SUL – CRCRS, Transparência e Ética, edição Outubro – 2015 – 24.

 

BIBLÍA SAGRADA. Antigo Testamento.  Gênesis. Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil. Companhia Nacional de Publicidade Filadelfia, Pensilvania 0902. Copyright 1994, 1995.

 

BIBLÍA SAGRADA. Novo Testamento.  Lucas. Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil. Companhia Nacional de Publicidade Filadelfia, Pensilvania 0902. Copyright 1994, 1995.

 

Autor desconhecido. HISTÓRIA DA CONTABILIDADE. Portal de Contabilidade. Disponível em: <http://www.portaldecontabilidade.com.br/tematicas/historia.htm> Acesso em: 16 de Nov. de 2015 às 12h 00min.

 

Autor desconhecido. HISTÓRIA DA CONTABILIDADE. Só contabilidade. Disponível em: <http://www.socontabilidade.com.br/conteudo/historia_contabilidade.php> Acesso em: 16 de Nov. de 2015 às 11h 45min.

 

Autor desconhecido. HISTÓRIA DA CONTABILIDADE – CRIADOR DA CONTABILIDADE: FREI LUCA PACIOLI. Conselho Regional de Contabilidade de Sergipe. Disponível em: <http://www.crcse.org.br/crcse/interna.wsp?tmp_page=institucional_historiacontabilidade> Acesso em: 26 de Nov. de 2015 às 08h 55min.

[1]Acadêmica: 5° semestre do Curso de Ciências Contábeis da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI São Luiz Gonzaga. leticiaschmitt304@gmail.com