Mona Lisa Africana: a esperança de regeneração de uma identidade

  • 18 de novembro de 2018

 

                                                                                          Caroline das Chagas Oliveira[1] 

                                                                                       Sonia Bressan Vieira[2]

O vinte de novembro, Dia da “Consciência Negra’’, assume significado de real importância no âmbito social e cultural ensejando momentos de reflexão, os quais, sem dúvidas, devem acontecer todos os dias. Essa expressão “consciência negra” designa uma percepção histórica, representando a luta contra a discriminação racial e a busca da igualdade social e da afirmação de uma identidade racial.

Nesse sentido, conforme o teórico cultural e sociólogo jamaicano Stuart Hall, as identidades culturais ‘‘são pontos de identificação, pontos instáveis de identificação ou sutura, feitos no interior dos discursos da cultura e da história” (HALL, 1996, p. 70). Assim sendo, cada raça ou etnia possui uma identidade cultural, acervos e caracteres próprios os quais, unidos aos elementos de cada cultura, remete à importância de cada identidade, visto que uma sociedade é formada por diversidades, e essas são formadas pelas individualidades presentes no interior de diferentes grupos.

Quadro de Ben Enwonwu (1917-1994) Foto: Ben Stansall / AFP / CP Geledes, Instituto da Mulher Negra,2018

 

Esses pontos de identificações citados por Hall proporcionam diversas conexões entre tradições, e nos leva a reflexão fazendo uma analogia com a obra ‘’Mona Lisa Africana’’ –pintura criada, em 1974, por Ben Enwonwu, pintor nigeriano que representa a arte moderna desse país. A referida obra está em evidência em artigos recentes, uma vez que, desaparecida há 40 anos foi encontrada recentemente, e leiloada por quantia considerável de dólares, mais de milhão de reais. Denominada “Tutu”, a princesa, filha do mítico rei- “ioruba” da Nigéria, representa a “esperança da regeneração daquele país”, e “símbolo da paz após o choque de grupos étnicos do conflito Nigéria- Biafra do final da década de 1960” conforme Eliza Sawyer do Departamento de arte Africana de Bonhams.Referiu-se ainda que “o quadro levou o poeta Bem Okri a dizer: ”penso nela como a Mona Lisa africana”(Geledes, Instituto da Mulher Negra,2018).

Dessa forma, faz-se mister, em tempos da bem construída “modernidade líquida” proposta pelo sociólogo Bauman refletir, ainda que metaforicamente, sobre o lugar ocupado pelos afrodescendentes nesta sociedade global lembrando que muitas gerações afros sofreram diferentes níveis de preconceito para que seus descendentes pudessem ocupar algum espaço no corpo social no qual estão inseridos. Tristemente, esse preconceito impera em cérebros doentios, fazendo com que, ainda neste século XXI, direta ou indiretamente, o racismo continue presente nos meios sociais, culturais. Procura-se um sentido através do qual se explique o porquê de grande parte da população brasileira é julgada pelo simples fato da cor da pele.

Que as nossas “Mona Lisas africanobrasileiras”, transformem a esperança da regeneração da identidade de uma raça, numa realidade presente e libertária, numa referência da cultura de paz !

 

REFERÊNCIAS

-HALL, Stuart. Identidade cultural e diáspora. In: Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Rio de Janeiro, IPHAN, 1996, p. 68-75.

-Mona Lisa é reencontrada em Londres após 43 anos desaparecida. Disponível em:https://www.geledes.org.br/mona-lisa-africana-e-reencontrada-em-londres-apos-43-anos-desaparecida/ Acesso em: 14 nov. 2018.

 

 

[1] Acadêmica do 2º Semestre do Curso de Direito da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI/SLG. Bolsista do Projeto de Extensão: Observatório de Estudos Culturais e Diversidades

[2] Doutora em História. PUC/RS. Professora da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões. Orientadora do Projeto de Extensão: Observatório de Estudos Culturais e Diversidades. URI/SLG.